quarta-feira, 27 de abril de 2011

No Bairro



O sujeito comprou a casa. Construiu um muro alto. Fim de ano, viajou com a família. À tarde, a molecada batia uma bola na rua. A bola caiu lá dentro, um moleque foi buscar. Demorou pra escalar o muro de volta. Da vez seguinte, o moleque já xingou, lascou uma pedrada na janela. Decidiram então arrombar o cadeado do portão: “Senão o jogo esfriava muito.” Como o dono não voltava nunca, à noite uns malucos entravam na casa, mandavam brasa nas minas ali mesmo, mano, na varanda... Até que um otário resolveu meter o pé na porta. Só de sacanagem!, porque as minas não queriam liberar pra ele. A casa amanheceu escancarada. Os vizinhos saiam carregando sofá, geladeira, televisão, como se aquilo tudo não tivesse dono... Gozado mesmo foi dar com Seu Altair também lá dentro – um velho todo metido, dono de armazém, saca? – porque ele ainda tentou disfarçar. Colocou no chão, arrependido, o que vinha carregando. Ao sair me disse, sem graça: Tava só olhando.

Texto de Odair de Morais
http://odairdemorais.blogspot.com

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